Jogados às Traças

Com a mensagem, veio a preocupação. Por algum motivo, senti um aperto forte no peito, sem explicação, não sabendo se era por causa da minha mãe ou por minha. —‌ Tudo bem… irei me preparar. ‌—‌ Minha voz vacilou por um único instante, com meus olhos observando por cima do ombro o quarto de minha mãe. —‌ Estarei lá. ‌—‌ Não havia um sorriso nos lábios, apenas um semblante melancólico de alguém que temia pelo pior. —‌ Não se preocupe, eu cuidarei bem dela. Vá, não fique pensando no pior, foque em sua missão. ‌—‌‌ Yami estava sempre tentando me acalmar, pois sabia pelo que estava passando. Balancei a cabeça positivamente, soltando um pequeno suspiro.

A bolsa de armas foi colocada presa à cintura, na parte de trás do corpo. Ao lado, as Fujakus mantinham-se presentes, prontas para serem sacadas se preciso. Pensei em pegar a armadura dourada, mas decidi deixá-la ali, guardada. As roupas eram um pouco mais grossas que o normal, justamente para evitar o frio do inverno que espalhava-se pela pedra. Um manto sobre o corpo, com um capuz sobre a cabeça cobrindo parte do rosto em meio às sombras.

Antes de sair, dei uma última olhada para dentro da casa. Um frio na espinha me fez paralisar por um segundo, o bastante para ver Yami abrindo um pequeno sorriso. —‌ Obrigado por tudo. ‌—‌ Foi tudo o que consegui dizer, antes de partir pelas ruas de Iwa rumo aos portões. Não precisava pedir para ele cuidar da mais velha, pois isso seria feito de uma forma ou de outra, mesmo que eu pedisse.

Em meio aos passos, os pensamentos conturbados se esvaiam, com o sentimento de dever ocupando seu lugar. Não podia me perder naquele momento, pois o caminho seria árduo e perigoso. Meus companheiros dependeriam de mim, da mesma forma que eu dependeria deles. ”Certo, o objetivo agora é a vitória nesta missão.” Sim, dali em diante era tudo o que importava.

—‌ Bom dia, Kira Hyuga. Deve ser um dos integrantes da missão, correto? ‌—‌ Dei uma pequena pausa, observando o ninja que também estava parado no portão. —‌ Bom, farei o meu melhor para que tudo saia bem. ‌—‌ Tentava passar confiança para o outro shinobi, retomando a confiança que tinha nas minhas próprias habilidades. Assim, quando todos estivessem por ali, partiria junto a eles rumo ao nosso objetivo.

Considerações:

Ethan, o Hattori, estava estirado sobre a cama, sentindo o colchão duro pressionar o tórax e o abdômen, em um estado de pré-sono. Os olhos mantinham-se entreabertos, com a presença de olheiras profundas na face; o pensamento destoava da realidade e a atenção se tornara vaga, com a consciência se perdendo aos poucos. Naquele momento, apenas uma manta fina e encardida, com dobras volumosas e repleta de rasgos, cobria-lhe o corpo desnudo. Por vezes, no ócio, costumava lidar com dores de cabeça severas e uma dificuldade anormal para dormir, mas naquele dia, esse não era o caso. Há muito não se sentia tão bem. Assim sendo, antes mesmo dos primeiros raios de sol invadirem o quarto pelo buraco no teto, ele já tinha decidido que não faria nada dispendioso pelo restante do dia. Após se doar com afinco pela vila, acreditava veementemente que merecia uma folga de toda aquela histeria coletiva que tomava conta de uma nação, sufocando-os. Entretanto, Ethan não precisava ir atrás de problemas para encontrá-los; se fosse preciso, eles viriam até a sua porta para incomodá-lo. E foi exatamente o que aconteceu no momento em que batidas rítmicas ecoaram pelo casebre, acordando-o.

Após o convidado indesejado manifestar a sua presença, não demorou muito para Ethan ficar diante da porta de correr que dava acesso à rua. O garoto respirou fundo, controlando a raiva, deixando as feições neutras, e então abriu a porta em um rompante. Assim que isso aconteceu, sua sombra delgada foi projetada para fora da casa e, sem nenhum pudor ou incômodo aparente, recebeu o mensageiro da forma como veio ao mundo, nu. Até o momento, seu único incômodo foi em virtude dos ventos frios que envolviam sua pele como um abraço desdenhoso, fazendo com que um arrepio o envolvesse da cabeça aos pés. Ainda assim, mesmo com toda a excentricidade do shinobi, o mensageiro cumpriu o seu trabalho e repassou algumas instruções para Ethan.

“Me pergunto quando isso vai acabar. Será que um dia vou poder ser livre de obrigações como essas? Ou será que terei de fazer o trabalho sujo por eles até o dia da minha morte? Pelo jeito, enquanto não resolver todos os problemas do mundo, não vou ter paz”, pensou Ethan, fechando a porta e voltando para dentro.

Resignado com o fardo, pegou as roupas encardidas espalhadas aos montes pelo chão e as vestiu, sem se preocupar com o cheiro pungente ou com os amarrotados. Depois, foi até o banheiro e jogou uma água no rosto. Passou algum tempo se “encarando” no espelho, em uma preparação silenciosa, com as mãos apoiadas na pia. No entanto, era impossível se concentrar em algo enquanto estivesse ali — o cheiro horrível que vinha da privada entupida roubava toda a sua atenção. Em seguida, tateou a casa inteira até encontrar a bolsa de armas que estava jogada em um canto escuro, atrás de um dos armários. Por último, pegou o cajado ao lado da cama e o apoiou sobre o ombro esquerdo.

Conseguindo chegar em segurança até o ponto de encontro, assim que o fizesse, procuraria por outros ninjas à espera. Para isso, utilizaria o olfato para detectar a presença de terceiros. — Também foram convocados aqui? — tendo sucesso na tentativa, perguntaria, aproximando-se, ficando a 1 metro de distância de ambos. Tanto a sua voz quanto os seus modos denotavam uma indiferença clara em relação aos presentes. Independente da resposta, daria de ombros e partiria.

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