Me atento ao que é descrito pelo mestre, me dedicando a não deixar as informações escaparem. Todos os pequenos detalhes do mundo shinobi, juntos, compunham algo muito complexo. Níveis de missão não era algo para qual eu me atentava, já que nunca ia além das categorias mais básicas. Apesar da responsabilidade, eu novamente me alivio por estarmos tendo a chance de algo mais desafiador junto de alguém de patente alta. Se havia um lugar para me provar, era ali.

Receber aqueles elogios me deixou paralisado. É muita gentileza, penso. Eu não sei como reagir. Não é uma sensação ruim, definitivamente, só não me era nem um pouco familiar. Só posso me sentir grato e confiar no futuro que temos juntos como equipe. Eu poderia me dedicar a isso, confio. Até o conhecimento sobre o hijutsu de Nanami é elucidador. Caso o mais novo detalhasse à respeito, eu ouviria com atenção.

Só que... paro para analisar. "Apostar no futuro", "jackpots". O rumor sobre o apostador de Kiri lentamente ia ficando mais claro. Talvez a gente tenha outra chance de bater papo sobre isso.

Uzushiogakure era uma visão marcante. A arquitetura tradicional se mesclava com vestimentas diferentes do habitual de Kiri, o que captura meu olhar de fascínio. As cabeças escarlate roubavam uma atenção especial. Uzumaki, anoto aquele detalhe mentalmente. Porém, dado o deslumbramento inicial, mantenho o foco. Era uma missão investigativa, acima de tudo.

Ouço todas as instruções de nosso mestre. Interagir com estranhos seria... desafiador, mas, de novo: era a chance de me provar. Com os olhares estranhos que recebemos, começo a pensar no quão incomum deveria ser um trio de shinobis chegando casualmente. Como era a força militar daquele vilarejo? Talvez pudéssemos dar uma olhada nisso. Tomo coragem para fazer sugestões, dada a oportunidade:

— Senhor, acredito que nossas bandanas sejam um chamariz — comento baixinho, tentando ser sutil. — Não sei como é a relação desta colônia com Kiri, ou quão incomum nossa presença pode ser vista. — Analiso a sugestão sobre a técnica mental de Nanami. Coloco o indicador no queixo. Sinto uma natural preocupação pelo mais novo. — Tenho receio de que a pouca idade de Nanami o impeça de chegar à determinados lugares sem parecer suspeito, ou então colocá-lo em perigo — digo, e logo percebo como aquilo soa. Ergo as mãos em defesa: — Não que eu ache que você não possa se defender, Nanami! Mas... o senhor acha que o Henge no Jutsu pode ser útil aqui?

Voltando meu foco ao meu próprio desafio, eu analisaria quais seriam minhas dificuldades.

— Minha mãe tem um mercadinho. P-por mais que não pareça, até que sou bom em conversar amenidades com as senhoras mais velhas que vão lá... — Numa tentativa de demonstrar utilidade, vasculho minha mente sobre meus conhecimentos úteis. — Minha mãe recebe produtos de vilarejos dos arredores, então acho que consigo reconhecer legumes incomuns, de onde vêm, qual a época de colheita... Além disso, também tenho um pouquinho de conhecimento em floricultura e história. Eu poderia falar amenidades sobre isso também...

Após minhas sugestões, aguardaria novas instruções antes de finalmente prosseguir e colocar a investigação em prática.

Ouço com atenção as explicações de Nanami sobre seu dom hereditário. Invadir mentes, analiso, tal qual Mekai fez conosco. Fascinante. Abria um universo de possibilidades. Sorrio com o embaraço do mais novo sobre técnicas que ainda lhe eram desconhecidas; não havia nada com o que se envergonhar sendo tão jovem e já tão capaz.

As orientações do nosso mestre me fazem encarar a realidade. Se a Ordem nos permitiu seguir nessa missão, é porque acredita que somos capazes de lidar com o que quer que esteja rolando. Engulo em seco, mas tento não me deixar abalar. Somos a autoridade aqui. A bandana é um risco mas também um aviso, penso, e me injeto com uma confiança inexistente mas necessária.

Ditada a estratégia, nos dividiríamos, enfim. Eu seria grato (e temeroso) pela chance de colocar em prática minha sugestão. Sem me distanciar muito do time, daria uma olhada panorâmica naquele centro comercial. O aroma almiscarado de vegetais e temperos não me seria estrangeiro, porém, em minha indecisão, eu olharia mais além. É mais fácil puxar assunto sobre a época de rabanetes e o cultivo de capim-cidreira. Mas não havíamos sido instruídos pouco antes da saída de Kiri sobre símbolos ocultos? Com isso em mente, meu olhar pararia no artesão.

Num andar descontraído, deixaria as joias reluzentes capturarem meu foco enquanto meu cérebro traçaria uma estratégia. O que quero descobrir não vai estar no balcão da frente. Mas se de fato haviam símbolos de algum tipo de congregação sendo feitos nos últimos tempos, que motivo ele teria pra me contar? Ou me mostrar seu registro? Talvez procurar aqui seja uma má ideia.

"É eles que precisam se preocupar com a gente", a fala do Ōtsutsuki ecoaria. E assim, tudo se fecha. Sou a autoridade, mas sou do meu jeito. A bandana era um aviso, mas avisos podem ser sutis. Aqui, não sou Naritoshi; não sou ninguém. Existiam técnicas de transformação além do chakra. Ninguém ali me conhecia. Posso ser um soldado de Kirigakure querendo saber do que não devo, mas também posso ser um garotinho tolo e impressionável que pagou para ter uma bandana.

Com esse pensamento, atuar pareceria menos ameaçador ou motivo de uma vergonha paralisante. Não me conhecem e nunca mais vou ver essas pessoas, eu repetiria como um mantra para me impulsionar. Minha memória me levaria até a senhora Hisawa: uma senhora pomposa sempre envolvida em perfumes fortes que vez ou outra visitava nossa mercearia. Com sua lábia afável, inundava os produtos da minha mãe de elogios, sobre como só aqueles eram de qualidade. A tática era infalível: falar, falar, falar, falar, até vencer pelo cansaço. Sempre era encantador assistir a matriarca Hōzuki desfazer sua rabugice aos poucos e ceder descontos absurdos à velha.

Não sou Naritoshi, não sou Hisawa; sou o que precisamos que eu seja. Sorrateiro como um ninja.

— N-Não acredito! — exclamaria. Concentre-se. Ache a voz. — É t-tão... incrível como me falaram — murmuraria, pondo a mão no peito e abrindo o sorriso mais largo possível. Chame a atenção do artesão. Ignore os outros olhares. Seja convincente independente da tolice. Respire. Você não é Naritoshi. — A Glória Reluzente de Uzushio. Os boatos que chegam em Kiri não fazem jus à essa beleza aqui. Quer dizer, olha esse metal tinindo, que brilho... E essa joia aqui? Lápiz-lazuli, né? Ah, não, não, perdão! Olha eu aqui, falando demais, eu e minha matraca. Jamais iria querer atrapalhar seu processo de criação, meu senhor. Eu não me perdoaria. Além do mais, a fila deve estar gigantesca, não? Como que tá o movimento por aqui? A lista tá grande, não é mesmo? Muitos estrangeiros? — Sorrateiro como um ninja. — E a clientela local, hein? Espero que não estejam fazendo muitas armas, hein? Vê se não vai tornar meu trabalho de shinobi mais difícil!

Arriscado. Altas chances de problema por uma ínfima fagulha de pista. Só poderia torcer para Nanami ter mais sucesso que eu, e que nosso mestre estivesse próximo o suficiente para interceptar qualquer situação catastrófica em que eu me metesse.

Tenho a atenção dele. Ótimo. Seguiria com o teatro, acenando com a cabeça enfaticamente e soltando sons de concordância. Nada disso é relevante. Escutaria suas explicações com mais atenção do que deixaria transparecer, buscando alguma pista escondida. Começaria a achar que aquilo era uma perda de tempo.

Calma. Seja um pouco mais direito, mas nem tanto. Cada símbolo importa, nenhum significado é aferido à esmo. É uma sociedade tradicional e histórica. Tem que ter alguma coisa. Porém, tão logo eu perceberia minha falha mortal naquela tática: eu não sei o que estou procurando. O jeito era... improvisar. Seria mais fácil se eu pensasse que estou contando uma história; não sou Naritoshi, sou só um garotinho tolo.

— É impressionante o cuidado que vocês têm, olha essa qualidade, isso é sentido da forja até o polimento, pode ter certeza, meu senhor — iria falando e me afastando como quem não quer nada mais para o fundo do mercado. — Nossa, nem vamos começar a falar de símbolos! Eu sei o quanto esses padrões são detalhados, acredite, os boatos chegam em Kiri com muito louvor. Esses desenhos carregam tanta história...Sim, sim, sim, tudo muito lindo. — Hora da história. Seja sutil. — Tô até lembrando do meus superiores, sabe? Nossa, você nem imagina! Vieram o caminho tooodo falando sobre uma tal inscrição esquisita, viu? Vou te contar... — Sou só um garotinho tolo falando mais do que devia. Não estou interessado de verdade. — Fora o papo sobre um pessoal estranho que diiizem estar circulando por essas bandas; não fui eu que falei, hein? Tipo assim, Uzushiogakure é tão tranquilinha, pelo que estou vendo. — Hora de uma breve pausa. Agora, o garotinho tolo percebe a besteira que disse e faz uma cara surpresa. — Ó, céus, não é verdade, é? — murmuraria num tom baixinho, só entre nós, emulando uma genuína preocupação com o homem. — Será que devemos chamar soldados para proteger seu ateliê? Jamais me perdoaria se algo acontecesse com seu arsenal, meu senhor...

Era outro risco, uma última chance de arrancar algo sobre as pistas que nos levaram àquela missão. De acordo com a resposta do homem, eu engajaria mantendo a máscara de preocupação da melhor forma possível. Após recolher o que fosse realmente valioso, daria uma desculpa para sair.

— Entendo, entendo. De qualquer maneira, não se preocupe, meu bom senhor. Veja — daria um sorriso apontando para uma das joias daquele arsenal. — É a de andesita, né? Tão linda. Espere só um pouco que vou buscar minha bolsa de moedas com meus mestres, porque aqueles chatões não me deixam andar com ela. Ai, ai, ai... — Tagarele e vá se afastando. Não dê brecha para perguntas. — Mas pode ir separando essa aí pra mim, viu? Tô te dizendo, quando eu chegar com essa em Kiri, não vou ter outro assunto. O sucesso é certo!

Assim, eu sairia em passos largos daquele lugar. Me misturando em meio o movimento da rua principal, pararia em um canto com as mãos nos joelhos e o coração batendo forte. Tiraria o cantil para se refrescar e se recompor. Nunca mais quero fazer isso. A culpa por mentir para aquele senhor se faria presente. O sucesso é certo! E a vergonha era cortante.

Mas meu trabalho não havia acabado. Pensei em já me reagrupar com Hakari e Nanami para relatar, mas talvez pudesse ir além. É uma ideia idiota. E ainda assim, eu queria ser mais útil. Lembro mais ou menos a direção de onde eles estão, pensaria, posso voltar depois. Decidiria seguir com minha ronda de exploração. Preste atenção no que está ao redor; inscrições, mensagens ocultas, símbolos, aglomerações estranhas em ruas desertas. Ignore os olhares para a bandana. Não se meta em problemas. Em caso de dúvida, dê meia volta.

Com um mantra e vários temores em mente, eu exploraria um pouco mais do vilarejo nos redemoinhos.

Nuvens, penso enquanto caminho. O símbolo de uma aldeia? Meu conhecimento básico de geografia global me leva ao nome de Kumogakure, o misterioso vilarejo do País do Trovão. Não é lá que tentaram assassinar o Raikage recentemente? Ou algo assim? Existe algum envolvimento daquilo com isso? O pensamento me traz um arrepio; talvez estejamos dando um passo em direção a algo muito maior do que o esperado. Com uma ponta na covardia e todo o resto no instinto de sobrevivência, torço para estar errado.

Os símbolos espalhados por Uzushio captam minha atenção e criam uma atmosfera meio sinistra. De repente, o vilarejo não era mais uma visão idílica de outra época, intocada pelas eras — algo estranho ocorria ali. Me dedico a memorizar o que vejo para reproduzir mais tarde e sigo me distanciando do ponto de origem. Pra que serve um símbolo secreto? Tento raciocinar. Organizações criminosas e secretas não eram novidade nos registros históricos. Espalhados por lojas e em outros pontos obscuros, esses códigos podem significar muito: "somos seus aliados", "este é um ponto de encontro", "este é um local de interesse".

A esquina em que viro confirma minhas suspeitas: o símbolo de fato parece algo que você veria em uma bandana de shinobi. O mapa se desenha na minha cabeça. Estrangeiros de além do mar vindo se reunir numa colônia remota do País da Água. De fato, era uma localização ideal. E o que faço agora? Prometi a mim mesmo que iria retroceder caso algo não cheirasse bem, porém... mesmo com o coração batendo forte, aquela parecia uma oportunidade muito valiosa. Ser útil e obter informações, penso. Ser útil. Sendo assim, decido segui-los.

Antes, porém, seguiria para um beco próximo. Levaria aos pensamentos a aparência que havia visto há pouco: um senhor idoso de expressões marcadas e inofensivas, olhos cansados, mãos calejadas pela forja. Os símbolos viriam com facilidade: Cão. Javali. Bode. Com o Henge no Jutsu completo, eu deveria ter assumido a forma do artesão de algumas ruas atrás. Sendo assim, sairia do beco em prol de caminhar despreocupadamente próximo aos homens suspeitos, tentando segui-los e ouvir o que dizem sem levantar suspeitas.

É o mesmo teatro de antes, tentaria me convencer a deixar os riscos de lado. Sou apenas um velho artesão indo buscar uma encomenda de materiais.

Certo, certo. Isso foi inesperado. Engulo em seco. Mantenha a calma, mantenha a calma, mantenha a calma. O homem bêbado me aguarda junto dos demais, todos aqueles olhares em mim.

— S-senhor, e-eu... — começo, e então pigarreio. Quem fala assim é Naritoshi. Eu não sou Naritoshi, sou apenas um artesão. Foco! — Meu rapaz — tento mais vez. — Calma lá, calma lá...

Tenho pouco tempo. Pense. Atenção aos detalhes. Se aquele bêbado me reconheceu com essa aparência, então são os mesmos estranhos para quem o artesão vendeu artefatos recentemente; logo, são os alvos da nossa investigação. E o que foi que ele acabou de falar? Apostador Indomável. Minha mente é um turbilhão martelante tentando encontrar uma saída, mas aquilo se encaixa com tanta perfeição que sinto um arrepio. Conheço um apostador, penso. Se sua fama chega até os ouvidos da Mizukage, porque também não chegaria para além do vilarejo?

Aquela não era uma missão qualquer. Estrangeiros com um símbolo secreto segredavam a alcunha do meu recém-nomeado mestre. Era um passo em direção a um mistério de consequências desconhecidas. E ali, vejo uma brecha para me desvencilhar — muito arriscada, mas a melhor que tenho.

— Veja bem, tô sem tempo, viu? — digo, tentando emular como melhor me lembro a voz daquele velho. — Tão dizendo aí que chegou gente de Kirigakure lá no mercado, sabe? Tenho que vender meus produtos e um estoque pra abastecer, dá licença — Do jeito que falam, eles temem Hakari. Então vou espantá-los com a vaga promessa de sua presença, sem comprometer sua localização.

Aquela informação mudava tudo, então preciso garantir que ele e Nanami não corram riscos. Eu lembrava do mercado ser algumas esquinas da rua em que me separei dos dois, com Hakari tendo uma boa visão da minha localização do ponto onde estava. Se aquela minha isca afugentasse os shinobis de Kumo, ótimo; se os atraísse, ao menos os dois podiam vê-los chegar preventivamente... se ainda estivessem escondidos.

Era hora de voltar. Me reunir e repassar as informações; garantir que estivessem seguros. Depois daquela interação, eu tentaria sair apressadamente, sequer olhando-os uma segunda vez. Sou um artesão atarefado com muita coisa para fazer. Me dirigiria até uma distância segura, virando numa esquina menos movimentada; o suficiente para desfazer a técnica ilusória. De volta como Naritoshi, faria um contorno por entre vielas até voltar ao percurso de antes, agora retrocedendo o caminho.

Com o cuidado para não me perder, minha mente flutuaria para meu time. Nanami, pensaria. Nanami! Capte meus pensamentos! Tenho informações importantes! Não era assim que funcionava, era? Que tolice, pensaria durante a corrida.

Corro com certo desespero até ver as figuras conhecidas dos dois. Na minha pressa, quase tropeço enquanto me aproximo. Ponho as mãos no joelho e arfo sem fôlego enquanto meu mestre me cumprimenta.

— Q-que... b-bom... que e-estão... b-b-bem... — Respiro fundo e pego meu cantil enquanto ouço Hakari-sensei. A água escorre pelo meu queixo com minha afobação. Ali, percebo que ele come um chocolate da mesma que o fez na frente da Mizukage, sem muitas cerimônias. Também lembro do tique de Nanami ao comer pirulitos inadvertidamente. O que é isso? Um bando com transtornos calóricos? Conversa pra outro dia, concluo. — K-Kumogakure, isso. Descobri isso também. Primeiro... investiguei a loja de um artesão e descobri que ele vendeu artefatos pra esse pessoal. Depois, percebi uns símbolos esquisitos pelo vilarejo, mais ou menos assim... — Tento desenhá-los no ar, sem sucesso. Quando tivesse um pergaminho e tinta, talvez fosse capaz de fazer uma representação mais fiel. — Não sei dizer o que esses símbolos significam, ou as intenções de Kumo com eles, nem o que o isso tem a ver com a população de Uzushio, mas... não acho que sejam aliados, mestre. Acho que esse vilarejo pacato calhou de ser um local de reunião perfeito pra evitar suspeitas, e fazer... o que quer que seja. Lembro do artesão tê-los achado suspeitos, e depois me indicou um beco onde os viu pela última vez... o que poderia ser uma armadilha, sim — digo e ponho um dedo no queixo, raciocinando enquanto explico. — Bom, quando usei a técnica de transformação, dei de cara com os tais shinobis de Kumo, com o símbolo da aldeia e tudo mais. Eles me reconheceram como o artesão, e um deles até tentou me levar com eles... mas aí...

Bebo mais um gole de água depois de engolir em seco.

— Eles pareciam estar com receio de... alguém. Um tal... apostador. A-acho que estavam falando... de você, mestre. — evito olhá-lo, sem saber como isso chegaria nele. Era quase como um intrometimento em um assunto pessoal. O que aquilo significaria para nossa missão? Se a história não me falha, as aldeias tinham uma relação pacífica desde as rebeliões jashinistas, portanto aquela tensão entre vilas deveria ser tratada com o máximo de cuidado; por mais simples que fosse, os pergaminhos falavam que bastava apenas um igrediente estranho adicionado ao grande caldeirão político para fazer tudo transbordar. Péssima analogia, penso logo que percebo que já está perto do meio-dia e eu só tinha o café da manhã. — Eu acabei mencionando a presença de Kiri por aqui pois tive medo deles tentarem atacar vocês... o q-que não quer dizer que achei que vocês não saberiam se defender! — ergo as mãos em defesa. Agora, vendo a calma do soldado de alta patente mordiscando seu chocolate, pareceu uma ideia meio tola. Ainda assim, os símbolos pela vila não sumiriam tão rápido, então talvez ainda restasse algo para investigar. Respiro fundo. — E-eu só... espero não ter estragado tudo. Eles mencionaram que iriam se encontrar numa baía próxima, então...

Quase não gaguejei, percebo com certa surpresa assim que termino meu relatório e ouço a resposta do time. Já estou mais à vontade ou minha preocupação dissipou minha timidez? Não tinha certeza. De qualquer forma, risada e constante empolgação de Nanami é reconfortante, e me permito rir junto. Era bom vê-lo em segurança.

A história revelada sobre Hakari-sensei e Kumo também faz sentido. Ali, olhando um pouco melhor nosso mestre, percebo enfim que ele não é tão mais velho que a gente — além de seus vastos conhecimentos científicos e lições sobre o caminho shinobi, vê-lo sorrir com a lembrança de uma pancadaria o colocava um pouco mais próximo de Nanami, quase a mesma empolgação audaciosa. É um bom grupo, penso com um sorriso contido. Os elogios de ambos sobre minha investigação me confortam; não me sinto um atraso.

Era preciso decidir o próximo passo, afinal. Ouço atentamente as sugestões antes de me posicionar:

— Acho que... a técnica de transformação pode ser útil de novo. — concluo, um pouco incerto. — Digo, assim, como já me viram, eu poderia assumir a forma do artesão mais uma vez e isso seria uma desculpa para vocês dois... meus... hã... conhecidos...? Que decidiram entrar para a... "causa". — Dou um suspiro. Isso significa mais um pouco de atuação constrangedora, agora com meu time olhando. — Acompanhar tudo de maneira furtiva também é interessante, seria mais seguro, mas desse outro jeito podemos interagir diretamente e descobrir coisas além do que buscamos... mas sair é que vai ser um problema, imagino. U-um problemão, na verdade... A gente pode se embolar na mentira e acabar sendo revelados — sorrio para Nanami, sem jeito. — Se nos descobrirem, ao menos vamos tentar do seu jeito de qualquer forma, e... hã... numa tacada só! — Soa mais legal quando ele fala, decido. A solução mais coerente, enfim, é me virar para Hakari-sensei. — Apoio o que o senhor decidir como mais viável, mestre.

Caso a opção do Henge no Jutsu fosse utilizada, eu já estaria pronto para virar o artesão, a memória de sua imagem e jeito de falar ainda frescas na mente. Precisaria adaptar o discurso para explicar a adição da minha dupla, afinal eu os tinha abandonado com pressa. Talvez fossem sobrinhos, ou os conheci na rua quando os vi encarando os símbolos e decidi levá-los ao ponto de encontro. O que quer que fosse, eu precisaria soar convincente. Não seja Naritoshi, era o mantra.

Rio junto com Nanami à menção dos chifres de nosso mestre. A empolgação do mais novo em um confronto direto é justa, explicita seu sincero nervosismo, e me sinto impelido a concordar — com aqueles dois, talvez tivéssemos mesmo uma boa chance de bom grado. Mas a decisão final de Hakari também me agrada. É uma boa lição, penso.

A infiltração faz meu coração bater forte. O risco de sermos pegos, de um barulho traiçoeiro nos entregar, a emboscada... olho instintivamente de relance para Nanami, disposto a apoiá-lo caso esteja se sentindo nervoso — apesar dos meus próprios receios.

Apesar dos meus medos, as informações que escutamos me captam de forma hipnótica. O que era aquilo? Uma ameaça de ataque à Kiri? Engulo em seco. Um ataque entre vilas era uma perspectiva assustadora demais. Uma guerra... Não gosto de pensar naquilo. Mas busco manter a calma. O Raikage sofreu atentados por um grupo de rebeldes, lembro. Se reunir numa ilha deserta para contrabandear suprimentos e contatar mercenários... Aquilo não parecia ser trabalho de uma ordem maior, mas algo mais sorrateiro. Isso me alivia brevemente, mas me deixa confuso sobre como devemos proceder.

— Mestre — murmuro. — Não acho que eles respondem a alguém acima, tudo isso aqui é tão... obscuro — comento, sem encontrar uma palavra melhor. — O que faremos?

A possibilidade de atacá-los aqui e agora não me parece mais viável, já que sabemos a proporção real de seus objetivos. O protocolo ideal parecia ser reportar à Mizukage o quanto antes, mas algo me deixa ansioso: desejo ouvir mais algum detalhe importante, algo que podemos deixar passar. De qualquer forma, aguardo novamente as instruções do nosso mestre.