Durante mais uma manhã no acampamento em que residia, Ethan acordava com a presença quase palpável do silêncio. Antes mesmo de abrir os olhos, levando em conta a tranquilidade que o cercava, deduzia que Oliver ainda não tinha regressado. Ficar rolando de um lado para o outro no saco de dormir nunca fora o seu plano, e não imaginou que passaria boa parte da manhã naquele estado de inquietação, mas não podia fazer nada a respeito, o aperto que sentia no peito não o deixaria até saber que o avô estava bem. Além disso, como se toda aquela aflição não fosse o suficiente, ainda tinha de lidar com as consequências da sua imprudência, que se manifestavam através de dores quase incapazes de suportar.

Quando finalmente o sol alcançou o seu ápice nos céus, Ethan resolveu fazer algo além de ficar deitado sentindo dores e medo. Após comer algo, pegar a sua jaqueta e ajeitar os seus equipamentos no corpo, não permaneceria ali por muito mais tempo. Dias atrás ele havia sido incumbido de proteger o lugar e os pertences do avô, no entanto, não faria mais questão de cumprir a tarefa. Assim como Oliver fizera, ele simplesmente deixaria o acampamento sem dar qualquer satisfação, indo caminhar pelas redondezas.

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Nas imediações, assim como Ethan observou durante a viagem, o lugar onde estava era rico em detalhes para serem explorados. Além de possuir uma beleza única, de tirar o folego, também proporcionava aos seus visitantes uma fauna e flora única, que combinava elementos diverso. Dentre esses elementos, existia uma floresta com árvores gigantescas, com mais de 3 séculos de vida, e volumosas, que não deixavam quase nenhum raio de sol tocar o chão. Além disso, também eram cobertas por cipós que se enrolavam em seus troncos e o musgo crescia aos montes no espaço que as cercava.

Assim que Ethan viu pela primeira vez aquele amontoado de árvores que se portavam como uma fortaleza, protegendo as formas de vida que habitavam ali, foi impossível não se perguntar sobre as belezas ocultas que estavam sendo guardadas naquela casca. Ainda que não tivesse muitas evidências que colaborassem com as suas suposições, entendia que boa parte delas podiam não ser verdade. Era apenas a sua mente lhe pregando uma peça, tornando algo simples e desinteressante em algo complexo e instigante, sabia bem disso, mas mesmo assim não se importou em deixar a sua imaginação correr livre.

Como estava na companhia do avô na primeira vez que se deparou com aquele arvoredo, não teve tempo para visita-lo. Dias atrás, a dupla lutava contra o tempo, e Oliver fazia questão de lembrar o neto disso toda vez que o mesmo afrouxava o passo. Mas agora, que não tinha pressa para chegar em lugar algum, Ethan finalmente estava livre para explorar o desconhecido, e foi exatamente o que fez. Com passos lentos e cuidadosos, que visavam não agravar ainda mais a sua situação, o Jonin não demorou muito até alcançar o seu objetivo, deixando um sorriso escapar dos lábios no instante em que chegou.

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Logo que Ethan se aproximou, ainda impressionado com o tamanho e imponência daquelas árvores, seguiu por uma trilha que não ficava muito longe de onde estava. Ele seguiria por aquele caminho estreito até se deparar com algo que chamaria a sua atenção. Conforme se aprofundava ainda mais na floresta, admirado com as criaturas que fugiam sempre que o viam, percebia que uma luz com tons leves de verde era a sua única companheira naquela aventura. A luz do sol não conseguia obliterar todos os obstáculos no seu caminho, então, para aqueles que não tinham um olhar tão perspicaz, só lhes restava uma fonte de luz tímida demais para brilhar como devia.

Depois de ficar cerca de 15 minutos imerso naquela nova realidade, Ethan, aparentemente, havia chegado no centro de tudo. Por fim, mesmo com a visibilidade comprometida, não demorou para encontrar o coração do lugar, uma pedra negra como o ébano, que não possuía uma forma bem definida. Junto dela, com diversos nós firmes por toda a sua extensão, flagrou uma corda branca com detalhes em vermelho. E caso Ethan reparasse atentamente, veria uma tarja com a seguinte mensagem: “Cuidado! O fim do mundo começa aqui.”

Ainda que tivesse lido a mensagem de alerta, era inegável que o fato havia despertado a curiosidade do garoto, que tomava a sua espada em mãos. Então, com toda a imprudência que lhe cabia, Ethan fez a sua lâmina partir aquela corda ao meio.

Vendo que o mundo ainda estava intacto, ele não faria mais questão de encarar o objeto singular, apenas guardaria a sua espada e continuaria explorando os arredores. No entanto, não muito tempo depois, o Jonin reparou que não conseguia mover o braço. Não importava quanta força fazia, não conseguia vencer a força que atraia a sua espada para a pedra. No fim, todas as suas tentativas foram em vão, tendo em mente que já não conseguia mais sentir o cabo da espada na palma da mão, vendo que a arma, agora, estava cravada na pedra. Assim que isso aconteceu, um estrondo se propagou por toda a floresta, como se milhares de vozes gritasse de dor.

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Após presenciar a cena, perplexo, Ethan se enfurecia ao ver que não conseguia retomar a posse da espada, que ela continuava inerte na pedra. Quanto mais se esforçava para alcançar o seu objetivo, mais era exposto a própria incapacidade e fraqueza. Mesmo querendo acreditar que a dor era o único motivo por trás da sua falta de força, sabia que não era esse o caso; Ethan sempre fez questão de fugir dos treinos que visavam acentuar esse atributo, e agora pagava pela displicência.

Depois de ficar quase 1 hora diante do pedregulho, descobrindo o quanto era fraco, já não tinha mais paciência para desperdiçar ali. Estava com fome, o corpo doía e começava a ficar incomodado com aquele cheiro agridoce que pairava pelo ar. Nada mais naquele lugar o chamava a atenção, apenas queria voltar para o acampamento para esperar o retorno do avô. No entanto, voltar de mãos abanando, sem a sua espada, não era uma opção. Dentre todas as formas que conseguia pensar para desrespeitar o velho, essa era a pior. Por isso, a vontade de Ethan acabou não valendo de nada.

Com aquele objetivo em mente, ponderando sobre as opções disponíveis e viáveis, Ethan não demorou para tomar a sua decisão: enquanto Oliver não voltava, montaria acampamento ao lado daquela pedra, treinando dia e noite para recuperar o artefato. Então, depois de buscar alguns pertences fora da floresta, Ethan não adiantaria mais o inevitável, começaria a treinar de imediato.

Durante o primeiro dia, ainda sem saber muito o que fazer, tudo o que fez foi carregar algumas pedras menores que ficavam em volta, ficando livre de qualquer obstáculo que pudesse atrapalha-lo. Já dia seguinte, ele seria mais ousado, ficaria socando o tronco de uma árvore por horas a finco, não descansando até que o seu punho estivesse encharcado de sangue. Posterior a isso, gastaria todo o tempo disponível fazendo séries de exercícios que trabalhavam músculos específicos do seu corpo.

Uma semana tinha se passado desde que Ethan tinha começado a treinar, mas ao tentar remover a espada da pedra, encarava novamente o fracasso. No entanto, dessa vez tinha conseguido move-la alguns milímetros. Falhar depois de tanto se esforçar era desestimulador, fazia com que o Jonin se sentisse um merda, porém, aquele pequeno sucesso tornou tudo mais suportável.

Se apegando nos resultados da semana anterior e na chama que ardia em seu peito, Ethan continuou seguindo aquela mesma rotina de treinos. Depois da primeira semana, mal conseguia mover os braços e pernas, parecia que os músculos estavam prestes a rasgar, caso continuasse com aquela rotina estressante. O seu corpo dava diversos sinais de que estava a ponto de se render, mas Ethan, por sua vez, os ignorou e continuou.

Foi então que, na sexta semana, ele finalmente conseguiria superar aquele obstáculo lustroso que prendia a sua espada. Com as faixas ao redor do braço tingidas de vermelho, ele se pôs diante da pedra uma última vez depois de tanto tentar, jurando que não haveria uma próxima vez. No fim, tendo que usar toda a força que jamais possuiu, estava feito.

O Jonin, então, pode reclamar a espada em mãos, mas não sem pagar um preço alto por isso. Ao fim da jornada, o corpo de Ethan não tinha mais sinais para dar, apenas o atingiria com toda a força, fazendo com que ele fosse ao chão, completamente exausto, sem nem mesmo conseguir mover a cabeça.

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