Ichiiro despertou determinado a finalmente encontrar a disciplina necessária para treinar sozinho — essa era a grande diferença entre a academia e a vida shinobi além dela, não havia ninguém para cobrá-lo, nenhum exame para determinar sua proficiência na área; dali em diante suas falhas poderiam significar perdas irreversíveis, de sua vida ou daqueles ao seu redor. Esconder seu próprio nome, lidar com o passado que lhe fora revelado pela mãe — tudo convergia sobre ele adicionando um grande peso sobre seus ombros, um fardo que não cabia a um shinobi ainda em seus dezesseis anos, mas que mesmo assim carregava.

Encontrou uma área tranquila da vila depois de alguns minutos de caminhada desde sua casa, uma planície rochosa sob a sombra de um grande prédio, uma região pacata afastada do centro. Como tinha carregado até ali com ele todos os seus pertences, deixou no chão ao lado de onde estava tanto sua bolsa contendo algumas ferramentas ninja, quanto o colar com o símbolo dos Yamanaka que sempre carrega escondido por dentro da roupa — era improvável que alguém interrompesse sua prática e mais improvável ainda que uma das pessoas responsáveis pela morte do patriarca Yamanaka o encontrasse ali e fizesse a conexão de um mero pingente com o filho do falecido.

Sobre uma rocha de superfície lisa, sentou-se de pernas cruzadas, fechando os olhos, sentindo as emoções turbulentas que domavam seu âmago — como tinha sido abençoado com uma reserva colossal de chakra, a ansiedade e a expectativa o faziam sentir como se tivesse um oceano indomável dentro de si. Na academia, tinha aprendido que a melhor forma de treinamento era separar apenas uma pequena porção de chakra e se concentrar em dar forma a ela, mas Ichiiro preferia antes ganhar consciência do tamanho e poder do inimigo contra o qual lutava, isto é, si mesmo.

Sob a tutoria dos Yamanaka mais antigos, aprendeu a separar tudo que o desejo inconsciente o incutia do que era consciente e objetivo. Assim deteve a turbulência interior ao se concentrar em suas reservas de chakra, sentindo ele mesmo ser atirado pelas próprias ondas. Lembrava-se de uma lição da mãe, uma kunoichi experiente: Ninjutsu nada mais é que dar forma ao chakra; o mesmo tinha sido ensinado na academia, posteriormente. Como seu arsenal ainda carecia de técnicas muito avançadas, deu início a sua prática com o que possuía, o básico. Abriu os olhos, descruzando as pernas e se movimentando lenta e graciosamente até alcançar a lateral do edifício que fazia sombra sobre a área de treinamento — estava em paz com a possibilidade de falhar, desde que pudesse tirar uma lição disto. Moldou seu chakra numa espécie de bota disforme que cobriu os pés, permitindo ele começar a subir, a parede lateral transformada em seu chão enquanto o chakra criava uma conexão que o impedia de cair no solo pedregoso abaixo. Naquele momento apenas sua concentração e controle o separavam de uma queda.

Assim que sentiu a estabilidade da técnica, voltou sua atenção novamente a totalidade da reserva de chakra, a afinidade natural com o Suiton tornava mais fácil dominar seu chakra enquanto uma metáfora de oceano. Manter ao mesmo tempo sob controle tanto seu chakra, quanto a técnica e suas emoções talvez significava pular etapas demais em seu treinamento, mas Ichiiro seria incapaz de aceitar o rumo mais lento de um treinamento comum, como os aplicados na academia. Subir a parede sem ter a mente limpa de distrações era como caminhar numa corda bamba enquanto o vento o atacava por todas as direções, mas enquanto mantivesse a concentração sem vacilar seria capaz de se manter na parede sem cair. Quando sentiu o chakra perdendo a forma que ele tinha escolhido, reforçou sua criação com um selo de mão, o ajudando a se manter suspenso contra a parede, ainda sem cair — àquela altura, além de fins didáticos, sua queda também significa bons machucados. Na academia havia aprendido que era necessário decorar os selos de mão, pois eles eram a forma mais fácil para ninjas inexperientes como ele em moldar o chakra sem ter de domá-lo à força bruta, embora Ichiiro sempre tentasse a última opção antes dos selos, como seria correto. Com Sora, ele havia aprendido que ao invés de decorar o efeito de cada selo era melhor executá-los todos e sentir como seu chakra respondia a cada um deles, e foi o que fez. Com as palmas abertas e os dedos esticados, juntou as mãos, sentindo a mudança imediata em seu chakra, que passou de uma energia vacilante a uma forma que podia ser sentida quase como sólida, dando continuidade a técnica básica sem afetar sua subida. O topo estava próximo. Ele sabia que alguns professores sequer consideravam aquele um selo de mão, mas era uma posição que fazia seu chakra reagir como ele precisava no momento. Deu continuidade alternando para apenas os dedos médios e indicadores se encontrando, o resto dobrados e entrelaçados uns aos outros, os polegares também. A sensação foi ainda mais reafirmadora, enquanto Ichiiro avançava para o fim da subida, seus pés antecipando como seria se deixar sofrer novamente a influência da gravidade. Sentindo ter controle total da técnica, desfez os selos, conseguindo manter os pés firmes na parede, arriscando passos ligeiramente mais rápidos que os anteriores, enfim alcançando o topo e desativando a técnica. Parou com as mãos nos joelhos, fitando toda a Iwagakure abaixo dele, a imagem de formações de rocha que avançavam até o limite da visão, onde o céu e o solo se tornavam um, o fazendo pensar que querer proteger tudo aquilo talvez seria demais, mas ao mesmo tempo sem se permitir uma pretensão menor que aquela.

Vida: 275/275
Chakra: 525/525
Estamina: 00/05

Informações:

Situação: Aprovado.
Recompensas: 1 ponto nos respectivos atributos, Ninjutsu e Selos de Mãos.