Oga não conseguira dormir direito após o dia cheio que tivera. Embora a adrenalina e empolgação ainda estivessem presentes, um pesar mais forte que o normal lhe assombrava quando levantara da cama.

Eram quase cinco horas da manhã quando saíra de casa, desistindo de vez das tentativas de cair no sono e decidindo por fim ocupar sua cabeça com mais trabalho. Tinha um longo trajeto de preparação pela frente e as missões eram um ótimo primeiro passo, então não tardou para comparecer mais uma vez no QG de Suna para se registrar em uma missão de construção civil.

Alguns relances da destruição que outrora acometera a vila ainda podiam ser vistos aqui e acolá, então enxergou nas novas tarefas uma oportunidade única de cooperar com o reerguimento da beleza e imponência de Sunagakure.

Sua parada foi ao norte da vila, onde um grupo misto de construtores e outros ninjas estava incumbido de estruturar uma nova via de acesso. Chegando de forma tímida perto do coletivo, Oga perguntou quem era o responsável pela obra, se apresentando e se colocando à disposição para quaisquer atividades.

Informando que a sua especialidade, sobretudo, estava em seus atributos físicos, logo foi designado para a organização dos materiais de construção, desde o empilhamento de blocos e organização das malhas de ferro, até à divisão das sacas de pó usado para a criação das massas de assentamento (concreto).

Naquele dia vestia seu macacão preto com capuz e gola que cobria a boca para proteger-se do sol. O escuro do tecido piorava o calor, mas desde que estivesse cuidando de sua pele, saberia que ficaria bem, já que não precisaria ouvir os sermões de Hana.

Após setorizar os materiais usando de sua força, beneficiou-se então de sua velocidade, retornando para a vila para coletar ferramentas que faltavam para o grupo, como algumas pás e espátulas. Sem demora, ao retornar, colocou as mãos na massa, colaborando em todas as etapas do processo: ajudou a trançar as malhas de ferro para dar forma às calçadas, cooperou com a uniformização da massa de concreto ao longo da via e desenhou os acessos, dispondo os blocos horizontalmente, delimitando assim as calçadas.

Quando terminou, seu pescoço escorria suor, mas seu estado físico estava no pico da adrenalina. Seu estado de espírito também, já não mais focado nos pensamentos ruins que vieram à tona após o turno noturno na floricultura.

Satisfeito com o desempenho de Oga, o coordenador do grupo lhe chamou para outra missão que aconteceria no turno da tarde, algo que foi aceito instantaneamente.

Por fim, junto com os responsáveis pela vistoria da obra, Oga analisou a simetria das laterais dos acessos, o nivelamento da calçada e estabilidade dos blocos. Com tudo ok, ajudou a dispor alguns cavaletes ao norte da vila, sinalizando que a área ainda estaria intransitável até o material devidamente secar.

A figura ruiva, contente com o resultado, agradeceu então a todos pelo companheirismo e correu de volta para a sua casa. Após almoçar, poria-se novamente em movimento para a próxima missão no seu segundo dia enquanto Gennin de Sunagakure.

Após comer um bentō delicioso, farto de salmão e onigiri, Oga partiu para a sua segunda parada. Dessa vez sua tarefa era pintar alguns muros e cercas de Suna, algo que aparentemente seria mais leve, comparado ao seu turno de trabalho anterior.

Sem enrolar, saindo de casa na primeira hora da tarde, encontrou com o grupo novamente. Pôde identificar alguns rostos novos, algo que silenciosamente notou, voltando a focar no trabalho. Acreditava que devia manter sua mente o mais ocupada possível, assim como o seu corpo.

Oga se conhecia e quando cedia para a melancolia, era difícil encontrar forças.

Dessa vez, o líder de obra tomou a iniciativa no diálogo, aproximando-se.

– O que faz um Kaguya aqui por essas bandas? – Questionou sem cerimônia, o que fez o par de olhos verdes de Oga fixarem-se nos seus.

– Apenas nasci fora daqui, minha vida inteira foi em Suna, senhor. – Respondeu de forma sincera, já organizando as latas por trios de pessoas. O grupo se subdividiria em núcleos para acelerar o processo. Um pintaria, outro cuidaria em dispor o material de proteção contra esguichos e um terceiro limparia os excessos e colocaria as faixas de “não toque”, para evitar quaisquer transtornos ou retrabalhos.

– Um semelhante então, ein? Me chamo Inuzuka Gabei, apenas nasci em Konoha mas vivo em Suna desde meu primeiro ano de vida. – Deu um tapa nas costas de Oga em saudação, arrematando antes de se afastar para dar início ao trabalho. – Você é um bom trabalhador, garoto. Ninjas como você são de grande soma para a vila.

Não sentiu ânimo em explicar para Gabei sua identidade de gênero, sobretudo porque suas palavras eram ternas e nada nele soava ofensivo. Optou apenas por responder, agradecendo.

– Arigato gozaimasu, Gabei-sama.

E assim começou mais um turno, com Oga desempenhando as três frentes de trabalho em seis núcleos diferentes. Lixava as superfícies dos muros e grades para facilitar o recebimento das tintas, pintando em seguida as superfícies. Em outro, posicionava os tapumes no chão para evitar manchas. E num núcleo seguinte limpava o caminho, descartando lixas, limpando algum excesso de tinta e sinalizando as áreas para evitar que civis se sujassem.

Ao longo da missão, quando finalizava com antecedência seus papéis pontuais nos núcleos, ajudava todos repondo as tintas nas paletas, certificando-se de que não faltasse. Por fim, ao lado de Gabei e outros colegas, fez a averiguação das áreas pintadas, ajudando na vistoria.

Quando finalizaram o sol já estava descendo, preenchendo o céu de laranja. Oga sentiu seu corpo, pela primeira vez, tremer levemente do cansaço, sinalizando que era hora de descansar. Talvez não encontrasse dessa vez nenhuma dificuldade para pegar no sono.

Agradeceu a todos pelo dia produtivo, cumprimentando um a um e, no fim, despedindo-se de Gabei.

– Foi um prazer trabalhar ao seu lado, Gabei-sama. – Disse, dobrando o torso em respeito. – Espero que em breve nos reencontremos.

– Digo o mesmo, rapazinho. Sempre terá o seu lugar na nossa equipe.

Fazendo um “certo” com o punho imenso, o homem partiu. Como se notasse o timing, o estômago de Oga protestou, sinalizando que definitivamente era hora de voltar para casa.

E assim o fez.