Uma tarde austrífera, com uma chuva relampejante. Nesse lugar, a figura de um homem se destacava, a única ali presente. Ele usava seu guarda-chuva na destra, enquanto tragava um cigarro com a canhota. A sua frente, as ruínas da Academia Ninja de Kumogakure no Sato, em toda sua prodigalidade, ou o que restara dela. Naquele mesmo lugar, o som de muitas crianças foi silenciado, mas a quietude era ensurdecedora. Um lugar que representava a esperança de uma geração de ninjas, sendo mantida apenas nas memórias daqueles que já haviam a visto. Onde muitos dos maiores ninjas da vila começaram suas vidas, e onde a vida de ninjas que nunca se tornaram tão grandiosos terminaram. Nada além daquele homem conseguia respirar naquele lugar.

Kurozawa Okari, um jōnin requisitado para reconstruir o quartel general, havia sido chamado uma segunda vez, como supôs. A invasão foi destruída, e a infantaria foi morta, mas levou consigo a academia e todos aqueles que estavam dentro dela durante a guerra. Se sequer sentissem arrependimento, saberiam que aquelas perdas poderiam significar uma das maiores tragédias já registradas nos últimos anos. Mas aquele não era o momento de pender para o desespero, e sim, de ajustar a balança para um novo recomeço. Uma nova esperança para Kumo e para todos os novos ninjas da vila. Ele se despede da antiga academia prestando suas condolências e arrependimentos, mas sem dizer nenhuma palavra. Nenhuma palavra poderia ser dita. É então que ele se vira e caminha para longe, em direção ao gabinete para uma nova reunião.

Considerações:

Como da última vez, o banco de Kumogakure já havia entregado o orçamento para Kurozawa, que se sentava para propor os planos para todos os presentes na sala de reunião. Todos estavam ansiosos pela iniciativa, satisfeitos com os resultados apresentados pelo homem. Por hora, os operários deveriam retirar todos os destroços do terreno, para que fosse possível iniciar a reconstrução, e isso não seria fácil. Os corpos ainda estavam ali, alguns, mortos de formas tão horríveis que aqueles que viam não conseguiam continuar, enquanto outros, seria preciso contar suas partes separadamente, tamanha a visceralidade. Foram despendidos dias para que não restasse mais nenhum corpo, e Kurozawa se responsabilizou de enviar esquadrões de ninjas para informar aos cidadãos. A presença de todos era requisitada, tanto para reconhecê-los, quanto para que pudessem se despedir apropriadamente. Tudo estava sendo documentado e arquivado no gabinete, para que posteriormente fossem honrados no cemitério da vila. Em seus epitáfios, serão gravados pedidos de desculpas dos generais das forças regulares, que falharam em protegê-los. Por fim, mais alguns dias foram despendidos até que o lugar estivesse pronto para sustentar a fundação da nova academia.

No fim, o gabinete declarou luto pela vida de todas as crianças e de todos os ninjas que morreram para tentar defendê-las. No mesmo dia, as famílias de todos se reuniam nas ruas para honras as memórias de todos. Era uma lástima, algo que para sempre marcará a vida de todos que vivem no vilarejo. O conglomerado de pessoas cruzavam as ruas em compadecimento, e em outro lugar, Kurozawa ajeitava seus documentos em seu escritório. Ele já havia feito o bastante para as pessoas que se foram. Era hora de fazer por aqueles que ainda restavam.

Considerações:

Enfim, semanas se passaram, e com o tempo, tudo foi posto em seu lugar. A academia ainda deveria ser aprovada dentro do gabinete para que os professores pudessem voltar a lecionar, e uma parte dos fundos retirados do banco de Kumogakure foi destinado a apoiá-los, já que não poderiam dar aulas fora da academia. Durante o tempo em que ficou inoperante, um novo projeto educacional foi elaborado, onde os estudantes poderiam estudar em locais públicos reservados pelos professores, como praças e bibliotecas. Aos poucos, tudo foi voltando a ser o que era. No dia de inauguração, muitos se reuniram na entrada da construção, e entre eles, o próprio Kurozawa, que mesmo que não estivesse chovendo, ainda levava consigo seu guarda-chuva aberto. Os portões foram abertos para a felicidade de todos que foram prestigiar o evento. É nesse momento que o homem finalmente fecha seu guarda-chuva. Estar diante de uma multidão de crianças que caminhavam pelos corredores, e não somente vê-los, mas ter certeza de que os veria novamente nos próximos dias, estudando para que se tornem os novos ninjas de elite de Kumogakure no Sato, era uma visão inspiradora.

Kurozawa então é chamado por uma última vez na sala de reunião. Lá, somente ele e uma dupla de ninjas se faziam presentes, mas não obstante, uma maleta trancada. Seu conteúdo foi relevado assim que solicitou, e como esperava, era seu pagamento. Como da última vez, foi paciente, contando cada uma das notas. Nenhum ryō faltava, e estando satisfeito, ele a pega com a destra e a leva consigo para fora da sala. Ao passar pelos corredores, muitas das figuras de relevância no vilarejo aguardavam pela sua saída, todas o aplaudindo pela eficácia de seu trabalho. Ele termina seu dia tragando o último cigarro do maço, agora, em contemplando o horizonte de um novo vilarejo. Apesar de servir a vila, aquele foi o trabalho que mais se orgulhou. Agora era esperar que alguém pudesse assumir o manto de proteger sua amada vila, e ele tinha um palpite de quem seria.

Considerações: