[O homem de outro tempo] -
[João 8:32]

As conversas da fuga do Hattori só cresciam, guardas subornados conversavam pelos cantos, presos e demais falavam que está rolando uma grana alta pra quem ajudar o Hattori a sair da prisão, isso claro deixava ele levemente incomodado, ainda mais se Angell estiver envolvido nisso, mas ainda assim se era pra acontecer, ele teria que contribuir de dentro e ficando o mais perto de alguma saída seria interessante. Antes ele tinha o atendimento com a psicóloga, mas após sua melhora ele foi dispensado, então estava mais do que na hora de mostrar que ele não era tão estável assim.

Dentro da prisão existia uma pequena paroquia onde um pastor pregava, ele decidiu ir lá para pensar um pouco, ouvir o sermão do pastor e ver o que poderia fazer para alegar insanidade, entrou na sala e notou que ela estava bastante cheia, seja pelos guardas ao redor, ou pelos presos sentados nas cadeiras assistindo a pregação do Pastor. O Hattori se sentou próximo do fundo, ficando sentado de uma forma em que ele ficasse com seu lado esquerdo livre para o corredor, abriu as pernas cruzou os braços e ficou ali olhando o pastor pregar.

- Então, Jesus disse aos judeus que acreditavam nele: Se vocês viverem minhas palavras, serão verdadeiramente meus discípulos conhecerão a verdade, e a verdade os libertará. – Dizia o Pastor.

Shion meio que ignorava, estava levemente incomodado, mas ficava ali mexendo a perna esquerda enquanto pensava. O Pastor saiu atrás do seu altar e começou a caminhar perto dos presos pregando sua explicação sobre o que ele disse.
- Vejam que João não está falando da sua verdade ou da minha verdade. Ele está falando da verdade de Deus. –
Levemente tímido e baixo os presos diziam. – Amém. –
O Pastor continuava dando seu sermão. – Nós, mortais, não conhecemos a verdade real. E Por quê? Será porque somos mentirosos? Será porque somos perversos ou não merecemos confiança? Não. Nós temos a verdade dos homens, porque nascemos com o pecado dos homens. E é o pecado, irmãos, que nos impede de conhecer Deus e Sua verdade. Pecados. Os óculos de lentes sujas que todos nós usamos. Isso faz com que tudo que digamos e façamos seja em proveito próprio. Então, como conseguiremos conhecer Deus e sua verdade? Como enxergaremos além de nossos desejos egoístas? Como nos libertaremos? Jesus. –

Com um tom irônico e sarcástico em sua voz ele ergueu o punho direito e de olhos fechados Shion gritou enquanto sentado. – Amém, Jesus! – Sorrindo para o pastor.
Levemente irritado, ou até procurando motivo pra chamar a atenção ele olhou para um lado, para o outro e começou a questionar o Pastor.
- Vamos ver se entendi direito, reverendo. Um judeu é pregado em uma cruz há não sei, há mil e sei lá quantos anos. E ele vai ser a pílula mágica que trará a liberdade e felicidade para todos nós, criminosos? -
O pastor o respondeu o questionamento interessado no que o Hattori diria. – Sim, meu irmão, ele vai. –
Shion deixa um sutil uau escapulir, olha para os demais presos, e deixou um uau mais sarcástico sair, sorria novamente provocando, voltou sua atenção para o Pastor.
- Eu conheci Deus, sabe o que Deus me deu, irmão? Sabe o que me faz sentir livre? – Se ajeitou na cadeira e soltou. –  Xoxota! – Com um sorriso de orelha a orelha, arrancando sorrisos tímidos dos demais detentos, mas ele continuou. – Uma xoxota sagrada e doce. – Movendo os punhos próximo ao rosto com um sorriso de satisfação e alegria.

Ele se levantou e continuou com o deboche. – Deus pôs os homens neste planeta por três razões. Para comer, para lutar... – Começava a olhar para os presos e falando. – e rasgar xoxotas apertadas e molhadas. – Arrancando ainda mais sorrisos dos detentos.

O guarda de irritou. – Já basta, presidiário. – O repreendendo com voz autoritária.
O Pastor visivelmente desconfortável com o que o Hattori falava, mas ele continuava. – É isso que limpa meus óculos escuros, meu irmão. – Andando e praticamente dançando no centro da paroquia.
Mais uma vez um dos guardas o repreende. – Cala a boca e sente-se, Hattori. –
Shion juntava as mãos perto do corpo de olhos fechados fazendo força e gritava.
- Não consigo sentar. Deus está em mim. Ele quer que eu fique de pé. Ele quer que eu pregue. Ele quer que eu espalhe sua palavra. Xoxota, a cura. – Os presos deixam um Amém escapulir, e Shion continuando andando e animado pregando suas obscenidades. – Xoxota, a salvadora. Podem dizer “Amém” para a xoxota? –

Os guardas perderam a paciência e o agarraram para retirar ele da paroquia, os presos obviamente começaram a gritar e comemorar de alegria pela bagunça gerada pelo Hattori, o Pastor ficava distante atrás do altar se protegendo, quando um guarda se aproximou de Shion ele o agarrou pela cabeça e mordeu seu nariz arrancando um pedaço e sujando seu rosto completamente de sangue, já o caiu no chão gritando de dor, Shion enquanto estava sendo puxado continuava provocando e gritando.
- A verdade estava na frente do seu nariz! Agora estou livre! A doce xoxota me libertou. –
Os guardas o derrubaram no chão e ele continuava rindo de alegria com os dentes sujos de sangue.

Não deu outra, ele foi encaminhado para a Psicóloga, ele chegou no corredor de espera e se sentou do lado de um garoto, o garoto olhou pra ele sujo de sangue e foi logo perguntando.
- Se machucou, você está bem? –
Shion olhou pro garoto, olhou pra suas roupas, sorriu pro garoto que viu os dentes dele ainda sujos e disse.
- Não é o meu sangue. –
Lentamente o garoto se levantou e trocou de lugar.

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