[Capítulo - Solo] O Peregrino I

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[Capítulo - Solo] O Peregrino I
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Caminhante sobre terras desconhecidas, o tempo parecia passar diferente através de seus olhos. Diferente do habitual, decidiu por caminhar com os olhos abertos, dessa vez, vislumbrando a paisagem de maneira comum. Seus movimentos eram calculados, pensados previamente para que pudesse recordar de seus próprios passos. Ainda que sua percepção lesse todo caminho que percorreria, continuava determinado. A travessia o levou a novas terras, onde a neve caia incessantemente, tal como se estendia até o horizonte. O frio incandescente o fez continuar, na intenção de manter seu corpo o mais aquecido possível. Tudo que via ao redor era neve e nada mais. Ainda que não esperasse chegar àquele local, sentia certa felicidade em ter encontrado um lugar de tal paisagem. Talvez, o local refletisse sua mente. Fria, solitária e tranquila; onde os sussurros do vento eram as únicas palavras que conseguia ouvir nitidamente. Havia dias que caminhava e a fome já começava a se tornar um grande problema. O local deserto não parecia lhe favorecer nessa questão. Ainda sim, seus passos seguiram rumo ao horizonte, onde sua chegada provavelmente não fosse esperada.

[...]

As pretensões carregadas pareciam se tornar cada vez mais nítidas em sua mente. Havia inabitado seus próprios sentimentos por muito tempo e, naquele momento, estava livre. De fato, sabia de suas responsabilidades e os problemas a resolver, entretanto, era algo diferente disso tudo. A liberdade que carregava era algo que não sentia desde a infância. Algo que se assemelhava ao livre-arbítrio que muitos falavam. O inesperado era a única coisa que lhe aguardava tão próximo e isso lhe aquecia o coração. Em dado momento, parou sobre a neve, olhando para o céu acinzentado. Sentiu a brisa fria bater em seu manto, como se o acordasse mais uma vez. Era ali que sua história realmente se iniciava. Na toca do lobo.

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Sex 14 Fev - 21:10

Não tardou para noite cair. Ainda que a nevasca não cessasse, Lawliet continuou a vagar por aquela nação desconhecida. Ia em direção à uma pequena alcateia que havia identificado ao longo do caminho, estava faminto e precisava se alimentar, nem que pra isso tivesse que lutar com lobos tão famintos quanto ele próprio. Se aproximou silenciosamente, mantendo uma distância equivalente à cem metros das presas. Era um grupo pequeno de cinco lobos brancos. Agachado diante os blocos de neve, cerrou os olhos, lendo o posicionamento de cada animal através de sua habilidade. Os lobos estavam entre um pequeno bosque e ali perto poderia facilmente encontrar uma caverna ou outra onde poderia descansar tranquilamente. Tomou como hipótese que os animais também usavam o local para tal, ainda que estivessem um pouco distante. A primeira presa seria de mais fácil abate, sabia disso, já as outras provavelmente seriam mortas por pura defesa. Não tinha escolha, eram os únicos animais em quilômetros de distancia. Seu movimento fora rápido, tal como bruto e silencioso. Encurtou a distância entre o primeiro animal através de um salto, abduzindo uma das lâminas gêmeas de seu bolso e empalando o pescoço de um dos animais. Os outros de súbito se levantaram assustados e logo se prontificaram a assassinar o invasor de suas terras. Lawliet se levantou lentamente, com a cabeça voltada para o chão, sua intenção assassina era forte o suficiente para fazer os animais se afastarem lentamente. Um único movimento fora necessário, para que uma segunda presa morresse. A lâmina em sua mão voou em uma rajada em direção ao animal, atravessando sua cabeça, causa da eletricidade induzida no bronze da arma. Os outros animais continuaram se afastando enquanto rosnavam, mesmo nos animais, L podia sentir que eles não tinham intenção de ataca-lo; queriam fugir. Quando começou a caminhar em direção ao terceiro, todos fugiram em disparada, deixando o local.

[...]

Por fim, estava errado quanto à caverna. Na verdade, ela era inabitada. Os lobos fugiram para longe dali, dando tempo suficiente para o peregrino recolher os dois corpos e carrega-los até a caverna. Lá, ele acendeu uma fogueira com os galhos que encontrou pelo caminho. A dificuldade de criar a chama era nítida, dada a umidade da madeira. Entretanto, com certa potência da eletricidade induzida nos próprios galhos, era possível coloca-las em chamas, apesar de queimar levemente sua mão direita. Com uma das lâminas gêmeas, aquele que havia recolhido perto do corpo do ultimo lobo, ele destrinchou a carcaça do animal, no intuito de separar a carne. Assim o fez, mesmo que não possuísse destreza para tal. Por fim, colocou a carne no fogo e esperou que ela fosse assada.

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Sáb 15 Fev - 13:40

O alimento era diferente do que havia se acostumado a comer nos dias atuais, mas esse era o principal motivo de uma certa nostalgia tomar sua cabeça. O avô de L era um homem simples e de rotina arcaica, por esse motivo a comida não possuía temperos feitos nas cidades e toda a carne que se alimentavam era a caçada pelo próprio velho. Esses foram os primeiros passos do rapaz rumo ao campo de batalha, como um caçador. O velho era perito nas artes marciais, mas na realidade, queria que L se tornasse um exímio shinobi em todas as artes. Apesar disso, a aptidão do jovem beirava o zero na maior parte das artes. O velho só percebeu que o rapaz era apto na arte da luta corporal depois de muito tempo, quando este já tinha cerca de sete anos. Nesse tempo, o próprio menino já havia começado a treinar sozinho e a desenvolver certas coisas. Entretanto, o que se apresentava como algo limitador no principio, tornou-se a maior arma do rapaz ao longo do tempo. Enquanto isso, o ancião da família já estava começando a ter dificuldades em caças um pouco mais complexas e, por isso, ensinou o menino à faze-las por ele. Não tardou para que o garoto chegasse quase a perfeição, tal como seu avô e, graças suas aptidões físicas e mentais, ele possuía habilidades natas de um caçador. O velho então se reteve a ficar na cozinha, destrinchando as carnes e assando-as sem quaisquer tempero. As coisas mantiveram-se assim por anos, até que seu avô começou a ter complicações e o mandou para a capital do país, no intuito de que um garoto não precisasse lidar com a doença grave de um ente querido. Na época, L não entendeu muito bem, atendendo o pedido de seu avô para que fosse treinar na capital. A noticia da morte do velho foi lhe passada após meses do falecimento real, já que nem mesmo seu corpo pode ser visto ou um velório decente foi feito. Isso fez L se tornar um rapaz frio e sincero ao ponto de parecer malévolo. As pessoas começaram a percebe-lo como um fantasma que vagava pelas ruas da capital, sem rumo ou opção. Ainda jovem, ele já havia se tornado alguém de mentalidade instintiva e autossuficiente. Esse caso fez com que ele desconfiasse dos próprios superiores e iguais, pois mesmo que não fosse, ele via a possibilidade de estar sendo usado para métodos das quais ele mesmo não queria participar e isso o fez almejar a liberdade genuína, tal como entender a real natureza dos seres-humanos.

[...]

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Sáb 15 Fev - 23:54

A chama oscilava na caverna, junto ao sussurrar dos ventos vindo do lado de fora. O calor era suficiente para manter o rapaz aquecido, tal que este ficou ali, a frente do fogo por mais algum tempo. Alguns minutos se passaram até que se levantou indo até a carcaça desossada e o corpo do segundo lobo. Levou-os até o lado de fora onde usou da neve para conservar o corpo do segundo lobo morto, dispensando o que já havia se alimentado. O tanto de comida ingerida dava para que L ficasse um bom tempo sem se alimentar, entretanto, quanto mais reservas de energia ele absorvesse, mais tempo ele poderia jejuar. Era algo que havia aprendido a muito tempo com seu velho.

[...]

Ao longo do deserto de neve, uma figura foi lida atravessando o domo sensorial que abrangia quilômetros. Era um homem, se movia na direção do posicionamento de Lawliet. Isso fez o rapaz ficar atento por um bom tempo, sem conseguir dormir. Uma longa hora percorreu o tempo até que o homem chegasse próximo a caverna, entretanto, ele simplesmente continuou o caminho por mais alguns bons metros e lá descansou. Ele se sentou próximo uma arvore e sua energia lentamente fora ficando mais leve, como se estivesse adormecendo. Lawliet era um homem que dificilmente dormia, a meditação havia o ensinado à uma espécie de sonambulismo, onde era possível revitalizar o corpo sem que todas suas funções sensoriais e mentais adormecessem. Assim o fez, sentou-se próximo ao fogo, de modo a manter-se aquecido o suficiente para que se sentisse tranquilo e começou a meditar.

[...]

Por um bom tempo, a mente de L vagou pelos próprios pensamentos, buscando o entendimento da própria natureza. Estava novamente retomando seus hábitos antigos? Talvez nunca tivesse os perdido. A sensação que tinha era que não lutava sem motivos, entretanto, não era isso que sempre havia sentido? Dessa vez, suas memórias foram a um tempo um pouco mais próximo do atual em que vivia. Aquela prisão. Cochlea. Era como se estar lá, fosse um reflexo da vida que lhe era atribuída desde sempre. Aquele lugar provavelmente havia sido um simples retiro. Já que, na realidade, o mundo real lhe parecia ainda mais uma prisão do que nunca. Não que a liberdade fosse um termo que conhecesse nitidamente, talvez, fosse o termo menos significativo na visão habitual de Lawliet. Afinal, a liberdade nunca seria conquistada através de algo. A mente o corpo, deveriam estar em total conexão, pra ele, essa era a real liberdade. Recordava das frases de seu velho, um homem cuja filosofia budista havia lhe ensinado muita coisa. Lawliet também havia adotado o zen para a vida, entretanto, por muito tempo não fora praticante como seu avô. A meditação, o zazen, havia sido algo que voltou a praticar a tão pouco tempo que ele mesmo ainda não sentia as grandes mudanças que o velho costumava falar. Ou talvez, aqueles pensamentos fossem reflexo disso e ele mesmo sequer havia percebido. A falta de resposta não o incomodava, na realidade, lhe aquecia profundamente o âmago da alma.

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Seg 17 Fev - 12:04

O alvorecer tratou de despertar o peregrino budista. Um leve calor tomava conta da caverna, reduzindo um pouco daquele frio incessante que conduzira a noite até seu fim. O sol mal havia dado as caras, quando Lawliet se levantou, caminhando até o lado de fora da caverna. A ventania era forte, tal que tentava até mesmo levar o manto que cobria o corpo do rapaz. Fechou o manto com a destra na altura do peito, segurando-o para que não voasse ou se abrisse a ponto do frio adentra-lo. Os olhos fechados do jovem ainda se cobriam da escuridão incessante, que era levemente penetrada pela luz que atravessava suas pálpebras. O silêncio daquele local trazia consigo uma melodia fria, tal como seu clima. O Shodaime Otokage, lia de longe a presença daquele homem que ali havia aparecido pela noite. Ele parecia dormir, quase que como uma criança. Sua aura não apresentava resquícios de malicia ou mesmo qualquer frieza capaz de preocupar L, por isso, deixou o local sem hesitação alguma.

[...]

O olho da mente fazia a leitura do ambiente em busca de uma fonte de agua fresca. Ao longo de quase um quilometro, encontrou um riacho, levemente congelado. O verão provavelmente havia descongelado grande parte da agua que o inverno havia transformado em gelo. L caminhou até lá, lutando contra o vento pelo caminho, para que ele não levasse seu manto ou retirasse o capuz de sua cabeça. O frio era firme como o aço.

No riacho, pode saciar sua sede e finalmente sentir-se renovado. Apesar disso, deveria voltar a caverna. Perder a carcaça que havia escondido poderia atrapalha-lo e não era algo que ele estava contando. Caminhou de volta, sem pressa alguma. De onde estava, ainda podia vislumbrar a localização de outrora. O homem de antes havia se levantado e agora estava mais próximo que anteriormente, algo que não agradava o peregrino.

[...]

A volta à caverna fora tranquila, apesar de não gostar nem um pouco da presença daquele homem que, cada vez mais, tentava se aproximar. Provável que ele não imaginasse nada sobre as habilidades sensitivas do mercenário e isso poderia ser um problema para ambos. Quando chegou à caverna, o tempo já havia corrido. Era quase metade do dia. Lawliet decidiu desossar a segunda carcaça, para assim diminuir a contenção de calor do corpo do lobo que possuía muito pelo. A carcaça anterior havia lhe dado uma breve ideia do que encontraria dentro do corpo do animal e isso já lhe ajudaria na segunda vez. Subiu as mangas do sobretudo até o bíceps e pegou uma das lâminas gêmeas abrindo a barriga do animal num corte ventral. Retirou os órgãos internos do corpo e terminou de arregaçar aquela parte. Iniciou a retirada da pele, retirando a parte mais carnosa da epiderme, evitando atravessar os músculos com muita brutalidade. Por fim, só sobrava o corpo desnudo do animal, sem órgãos e sem pele. Era hora de desossa-lo. Anteriormente não tinha o conhecimento da anatomia do animal, o que havia dificultado, mas dessa vez, com cortes paralelo aos ossos, retirou a parte carnosa de maneira mais exímia e precisa. Por fim, jogou a carcaça ao lado de fora da caverna, a alguns metros dali, enterrando-a próxima a outra. A carne retirada também foi conservada abaixo da neve, próxima o suficiente para que L pudesse pega-la rapidamente. Seu corpo não apresentava sinais de fome, o que o fez chegar a conclusão de que jejuaria até o inicio da madrugada.

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Seg 17 Fev - 18:53

A noite caia enquanto o rapaz meditava abaixo de uma arvore. A neve se acumulava levemente em seus ombros, quase que como acariciando sua postura. A mente em uma espécie de transe, mal percebeu o passar do tempo, apesar de sua atenção hora ou outra ser tomada pela presença do homem de outrora. Quando a noite caiu, L se viu na necessidade de confrontar o perseguidor, para assim desvendar suas verdadeiras intenções.

O homem estava a cerca de vinte metros da localização de L, provavelmente pensando que estivesse escondido entre a floresta e a neve. Lawliet se levantou, de costas para a localização do homem. Os músculos de seu corpo cintilaram uma quantidade considerável de chakra, fazendo-o percorrer a distância numa breve fração de segundos. Apareceu afrente do desconhecido como um fantasma, tocando o tendão de seu trapézio quebrando a transferência do seu sistema nervoso através do conhecimento anatômico adquirido. O homem caiu no chão, desacordado. L pegou seu corpo e o levou até a caverna, onde agora apenas a fogueira iluminava a escuridão. Deixou o homem desacordado encostado em uma pedra, enquanto esperava que este acordasse para que o interrogatório se iniciasse.

[...]

Duas horas se passaram até que as flutuações de energia do homem começassem a retornar, dando indícios de seu despertar. Lawliet manteve certa distância, já que, apesar de ter tomado os armamentos do inimigo, este poderia surpreende-lo a qualquer momento. Os olhos do inimigo se abriram, observando o local desconhecido onde se encontrava; apesar disso, ele não pareceu ter medo da presença do rapaz de cabelos negros. Olhou-o com destemor e tentou se erguer, mas não conseguiu. Seu corpo ainda não reagia completamente aos estímulos enviados pelo seu cérebro, tal como a dor era grande demais para que ele conseguisse se mover. Ainda sim, tentou mais uma vez, dessa vez, seu corpo fora arrebatado por uma onda de intenção assassina que o fez paralisar diante ao jovem. Seus olhos se arregalaram e o silencio perdurou a caverna. Dessa vez, tentou falar, mas suas cordas vocais não emitiam som algum, tal como sua boca sequer conseguia se mover. Foi quando pareceu desistir, caindo em direção a parede mais uma vez. Lawliet deu mais um passo ao perceber que sua intenção assassina havia sido forte o suficiente. Podia sentir suas flutuações de chakra exalarem um teor tranquilo, apesar da situação. Era um homem de destemor maior que a maioria, era o que Lawliet pensava.

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Qua 26 Fev - 12:59

O silêncio pairou sobre os homens, perdurando uma situação de confronto desigual. De um lado, um homem totalmente desposado de sua capacidade física ao máximo, em pé, demonstrando sua força física e mental. Do outro, um homem sentado no chão úmido da caverna; inquieto, mesmo que tentando manter sua mente centrada em algo, para que não perdesse a compostura. Ainda que não percebesse, a questão ali era mais do que o interrogatório em si. Para o homem aquilo havia se tornado uma questão de honra para com seus conterrâneos, apesar disso, Lawliet nem mesmo cogitava esse pensamento. O rapaz de cabelos negros se aproximou ainda mais, agachando-se a frente do homem mais velho, cujas feições num único dia haviam envelhecido nitidamente. Tocou seu joelho esquerdo, colocando os dedos entre as articulações, apertando-a levemente, sem causar quaisquer dor. — Por que estava me perseguindo? — A pergunta veio de maneira tranquila, apesar do tom ameaçador que o momento transpunha. A raiva nos olhos do homem transpareceram diante a pergunta, tal como sua energia enervou-se de súbito. Ele disse algo ainda que baixo e audível para Lawliet que preferiu ignorar completamente. O peregrino repetiu a pergunta, dessa vez, apertando um pouco mais forte as articulações do perseguidor. — Me responda ou posso quebrar seu joelho com meus dedos. Por que estava me perseguindo? — O interrogado começou a dizer algo, mas sua energia revelava suas intenções de mentir, o que fez L apertar os dedos ainda mais, fazendo o homem gritar de dor. — Não minta. — O suor começou a escorrer a testa do homem. — São ordens, só ordens. Nada mais que isso. — Ele falou, exalando a raiva que sentia diante àquela situação.

L se levantou lentamente. Não sabia até onde aqueles homens estavam dispostos a ir ou, se mesmo, valeriam qualquer esforço de sua parte para desvendar aquele mistério. Poderia simplesmente deixar aquele país e seguir sua jornada rumo ao desconhecido. Entretanto, algo do passado lhe afagou o peito numa curiosidade incessante. Não tinha intenções de deixar aquele local, não naquele momento. Subestimar o inimigo poderia ser um erro, por isso, deveria ficar ainda mais esperto diante as adversidades do caminho. Porém, estava um passo a frente. Aquele homem ali sentado poderia lhe dizer as reais intenções de seus superiores. Isso se é que àqueles homens realmente tivessem algo a tratar.

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Qua 26 Fev - 17:49

Ordens. Algo que um dia o próprio L já havia dado e seguido. Algo que mesmo no fim, ainda que tentasse transforma-las o máximo possível em uma espécie de pedido, ainda tinham o peso que a definição que esquivava. A hierarquia dos homens era algo que havia abominado toda sua vida, entretanto, percebeu que um dia acabou por se tornar aquilo que mais abominava. Talvez, fosse diferente aos olhos de outros, mas não de sua própria visão. Um líder, mesmo o mais justo, ainda está sujeito a falhas, coisas recorrentes daqueles que carregam peso de fortes decisões. O poder capaz de corromper o senso de justiça e a frieza de um cargo considerado superior. Algo que agora carregava em seu peito, ainda que com desdém. Provável que aquela viagem tivesse sido a melhor escolha a se fazer. A inconstância, provavelmente, era o maior motivo de continuar seu caminho. Ainda que não soubesse por onde trilhar, Lawliet também tinha sonhos, dos quais pequenas coisas não seriam capazes de ajuda-lo a alcançar. O primeiro objetivo havia se tornado aquele. Superar-se. Buscar no desconhecido algo que desconhecia de si mesmo. Já que, o próprio vislumbre de lucidez que tinha do futuro, o qual as pessoas chamavam de sonhos, ele mesmo não via nitidamente.

[...]

— Parece que o dia será longo. — O peregrino murmurou ao homem sentado a sua frente. O sol raiava mais uma vez. Quantos dias haviam se passado ali? Dois? Três? Não recordava. A tempos sequer se dava o trabalho de abrir os olhos para sentir a luz adentrar suas retinas. O prisioneiro tentou se acomodar como pode, apesar da dor e da falta de conforto de uma caverna abandonada pelo tempo. A ventania fazia o clima pesar. A caverna escura e fria, agora era o palco de um interrogatório. Frente-a-frente. Interrogador e Interrogado. A respiração do interrogado, oscilando entre o afobado e o engasgar com os próprios pulmões. Talvez, finalmente havia sentido o que estava acontecendo ali.

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Qua 26 Fev - 20:02

O sol raiava sobre aquele horizonte trépido, onde o frio incessante fazia sua jornada eterna. Frestas de luz iluminavam levemente a caverna obscura, onde a sensação beirava uma sede de sangue incontrolável. Aproximando-se com passos frigidos, silenciosos e ainda sim melodizando uma sonoridade fúnebre, Lawliet mais uma vez se agachou frente ao homem. Dessa vez, olhou o prisioneiro nos olhos por um curto espaço de tempo, suficiente para que um frio diferente do causado pelo clima tomasse conta da espinha do homem. O suor percorreu sua face, aterrorizado diante à sede de assassinato que o homem de longas mechas negras exalava. O temor já havia tomado conta do corpo daquele que, a pouco, perseguia o peregrino.

— Quem o enviou e qual o motivo? — O prisioneiro não carregava nada além de uma espada e suas vestes eram comuns como às de quaisquer andarilho molambo. Sua voz gaguejou para responder, fazendo-o se forçar à falar de maneira mais nítida. — Sou um espadachim do País do Ferro. Só queríamos saber o que faz em nossas terras. — A fragilidade do modo como pronunciava as palavras, entregou a verdade. Ainda que não tivesse, L saberia se fosse mentira. Dessa vez, se levantou, retirando o capuz que estava sobre sua cabeça, caminhou alguns metros até chegar à entrada da caverna, onde parou. — Estou peregrinando, nada mais... — Murmurou, audível o suficiente para que a acústica da caverna fizesse o som ecoar até os ouvidos do dito espadachim.

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Qua 26 Fev - 22:03

Em seguida, o silencio tomou conta mais uma vez daquela morada temporária. A possibilidade de uma ameaça já não parecia algo a se preocupar, pelo menos, não naquele momento. Aquele espadachim, talvez, pudesse tentar alguma coisa futuramente mas não conseguiria se aproximar tão facilmente sem ser notado pela leitura do olho da mente do peregrino. Lawliet realocou o capuz sobre a cabeça e finalizou sua estadia naquele lugar. — Seguirei meu caminho. — Murmurou mais uma vez, seguindo rumo ao sul de onde estava. De acordo com as anotações mentais feitas durante a travessia até aquele lugar, estava próximo ao País do Trovão. Dali partiria rumo à próxima parada, seja lá onde fosse. Entretanto, dessa vez, tinha algo em mente. Algo que não havia levado em conta durante seu trajeto anterior. Os rastros deixados. Não podia se dar ao luxo de ser encontrado. Seu nome agora vagava aos quatro cantos do mundo e qualquer um com um pouco mais de experiencia e informação, seria capaz de reconhece-lo. Ainda que, a vida de andarilho lhe parecesse uma saída, no fundo, sabia que nunca poderia abandonar o passado e o quê havia sido consequente à ele. Sua opção era única se realmente quisesse continuar com aquilo. Ou tornava-se uma presa fácil diante um caçador ou encobriria seus rastros, vivendo como um fantasma do mundo.

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Qui 27 Fev - 11:28

A grande extensão de neve era o cenário perfeito e, ao mesmo tempo, o menos propício para a situação presente. Os passos ficavam marcados nitidamente a cada nova passada, encobrir a movimentação era algo quase impossível dada a localização. Entretanto, se conseguisse se esgueirar de maneira sorrateira por aqueles cantos do mundo, não teria local que o impedisse.

[...]

O toque de seus pés na neve era suave, consequência de uma das propriedades de um estilo de luta assassino. Não propriamente estava utilizando tal estilo, mas recordar de algumas características do mesmo o ajudava a pensar em maneiras de se mover sem deixar grandes rastros. Ainda que tentasse, sua movimentação não era totalmente encoberta. Provável que apenas caminhar não traria soluções algumas para seus problemas. A solução mais nitida, era usar o resto da paisagem ao seu favor.

[...]

A floresta se erguia logo a frente, alguns metros dali. Ali, seria o local perfeito para a execução de uma movimentação fantasma. A aproximação da vegetação, fez Lawliet saltar para a até o galho de uma arvore, no intuito de alterar o trajeto de seu movimento, encobrindo seu local de passagem. Entretanto, até mesmo os galhos das arvores estavam cobertos de neve e usa-los tão amadoramente poderia ser um erro. Teria de lidar com aquela coisa tão frágil, a neve.

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Qui 27 Fev - 16:21

Daquele modo, mover-se entre as arvores não favoreceria a questão que havia colocado para si próprio. Um rastreador nato, teria facilidade de encontra-lo sem muito problema. Quando tocou o primeiro galho, usou um único pé para impulsiona-lo novamente para frente. Dessa vez, saltou para o tronco principal da arvore seguinte. Apesar de ter evitado deixar pegadas nos troncos, o movimento bruto fez com que a arvore balançasse, perdendo um pouco da neve acumulada.

[...]

Pequenos indícios deveriam sumir totalmente, entretanto, a ideia era que indicio algum ficasse por onde passasse. L então continuou a se mover, dessa vez, com toques sutis. Sequer precisava utilizar da técnica base de escalada, já que a própria movimentação o proporcionava um movimento retilíneo naquela altura. Movia-se então pelos troncos principais, diminuindo o máximo possivel o impacto que seu pé causava no "pouso" e no impulso. Daquele modo, diminuiria drasticamente os indícios de sua estadia naquele lugar.

[...]

A trajetória foi alterada após algum tempo seguindo aquela reta. Assim, esperava que os rastros fossem totalmente irrelevantes a partir dali. Seus saltos se tornaram sutis tal como penas que tocavam os troncos. O impulso era feito de modo tão leve que o corpo do peregrino quase que planava até a arvore seguinte.

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Qui 27 Fev - 22:29

A movimentação do peregrino era impecável do ponto de vista técnico. Não tinha dificuldade alguma em se mover daquele modo. Em dado momento, ele percebeu que a leveza dos seus passos e a facilidade de se esgueirar como uma entidade fantasmagórica havia se desenvolvido de modo a facilitar até mesmo o toque de seus pés sobre a neve. Para fazer isso, deveria diminuir drasticamente a incidência de seu peso sobre o ponto de aterrizagem e desse modo, diminuir a alteração da neve abaixo de seus pés, se fizesse isso corretamente, seus vestígios seriam tão mínimos que no passo seguinte, os rastros já teriam sido encobertos.

Ainda que um resquício desse vestígio continuasse a existir por detrás dos panos, não era nítido e qualquer homem que fosse, mesmo o maior dos rastreadores, teria certa dificuldade de seguir. Assim o fez, saltou sobre o galho de baixo com seu corpo pairando quase como uma pluma. A queda fora leve o suficiente para a neve apenas adequar-se à ponta de seus pés que a tocavam. Quando saltou pode ver que a pegada era tão pequena que seria facil confundi-la com qualquer outra coisa que não fosse pés humanos. Assim continuou, rumo ao destino desconhecido.

[...]

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