Por todos os cantos podia ouvir os chiados, Heshikiri caminhava lentamente pelas ruas de Kumogakure. Todos ao seu redor corriam apressados preocupados com as coisas que carregavam ou com o que vestiam. — Como ousam a deixar algo belo assim passar despercebido? — Pensava o samurai, baixando o capuz de sua jaqueta olha para cima erguendo ambos os braços, o céu está lindo e parece que que ninguém está notando, sendo esse mais um daqueles momentos em que o sentimento de solidão em meio a multidão começava a ser sentido. Rapidamente as ruas estão vazias e ele de fato está sozinho, o que tornava o caminho ainda mais agradável, aos poucos suas vestes molhadas vão ganhando peso e crescia sua vontade de cancelar o seu compromisso e aproveitar essa chuva em alguma sacada observando todo o horizonte ser banhado pelas lagrimas de céu.

Mas não é sempre que essa pessoa está disponível, então seguia rumo as residências mais afastadas do centro, as ruas vão ficando mais estreitas e sujas. As paredes começam a apresentar a personalidade de seus moradores, grafites e pichações se tornam frequentes e de uma certa forma bem singulares, as pontas dos dedos de sua mão direita se arrastam pelas paredes continuamente enquanto caminha até que chega em seu destino, uma casa cercada por uma grade de ferro e brinquedos espalhados pelo quintal.

Assim como antes, teve a impressão de que o lugar busca não ser encontrado. Além de isolado não há nenhuma forma de chamar atenção de quem está lá dentro, exceto gritando e foi isso que o garoto fez. — ALÔÔÔÔÔÔÔÔÔ! — Não gritou nenhum nome ou algo em particular da mulher, acreditando que ela não gostaria de ser identificada. Por trás daquela grade a porta da frente se abre, lá estava a garotinha com um largo sorriso no rosto, exalava inocência e alegria, se lembrando um pouco de como ele era naquela idade. Ela logo fala: — A MEU DEUS! — Entra para dentro de casa e logo volta calçada com botinhas de chuvas e com um guarda-chuva, ambos na cor amarela. Corre em direção do portão e o abre, com uma expressão preocupada diz: — Você vai e pegar um resfriado moça, venha logo para dentro. — Tenta cobrir o garoto com o guarda-chuva, mas devido a sua estatura não consegue se esticar o suficiente. Gesticulando com a cabeça ele indica que não é necessário, então ambos adentram a casa.

Ao entrarem ficam na sala e Mary logo vê Heshikiri completamente encharcado e pior, molhando o chão inteiro. Com um olhar de repreensão ela diz: — Achei que não viria por causa da chuva... — Com um pequeno sorriso o samurai responde: — Eu gosto da chuva e não é sempre que temos esse clima. —  A mulher que estava sentada em um sofá para duas pessoas, se levanta indo em direção ao corredor. De costas para o shinobi, ela fala de uma forma seca: — Vamos, não tenho roupas pra você trocar, a menos que goste de usar shorts curtos e blusas baby look. Vamos logo terminar com isso. — Continuou andando até sumir no fim do corredor.

Olha para a garotinha e diz: — Com licença, preciso usar o banheiro. — Sempre que se dirigia a ela tomava cuidado em fazer com um pequeno sorriso no rosto, já ela fazendo uma expressão séria levando uma de suas mãozinhas a testa com a palma para baixo, batendo continência ela fala: — Por ali Senhor! — Apontando em seguida a direção, sem entender muito bem, mas rindo baixinho o garoto vai em direção ao banheiro. Chegando lá, Heshikiri tira suas roupas e as espreme com bastante força chegando até mesma a danifica-las um pouco, todavia quase toda a água sair deixando o tecido apenas levemente húmido.

Já no salão de forja Mary o esperava, sem muita demora ele pôs os equipamentos de proteção e começou a preparar os materiais e esquentar o aço. Assim como na outra vez a mulher iria apenas avalia-lo e apontar seus erros como da última vez, o observando com olhos atentos diz: — Dessa vez você não irá criar um acessório decorativo, tratasse de uma arma real. Você como Samurai deve saber que para um espadachim a espada é uma extensão do seu corpo, isso vale ainda mais para aqueles que forjam seus próprios equipamento, cada parte leva seu suor e esforço, um pedaço teu ficará nessa arma, a construa tão bem quanto poderá manuseá-la... — Escutando essas palavras injeta uma carga de ânimo.

O calor escaldante tomava conta do lugar, suor escorria por todo o corpo de Heshikiri, dessa vez diferente da ultima ele iria fazer uma arma mais formidável, sua complexidade era bem maior do que o adorno que fez anteriormente. No salão um enorme cilindro ardia em chamas no seu interior, com dois tubos conectados ao mesmo, um deles despejando carvão e o outro areia ferrosa, Mary havia falado que essa era a evolução do Tatara, produzido por Odatta-tono dava a capacidade de em um período curto de tempo e sem mais ninguém auxiliando, produzir um Tamahagane de alta qualidade, o fundo do cilindro se abria e de lá Heshikiri coletava o precioso metal utilizado na produção de katanas. O metal coletado é então manualmente martelado pelo garoto, devido a forma de como é coletado o mesmo vem fragmentado, juntando os pedaços já amassados em um amontoado e cobre com papel, argila e cinzas. Esquenta e começa novamente a martelar até ficar um retângulo, quebrando no meio e uma das metades é posta em cima da outra e martelada até ficar retangular novamente, sem descanso algum o garoto martela o material com vigor, sendo rápido e preciso para que o material não esfrie demais e se torne impossível de trabalhar, sua enorme força em comparação a uma pessoa regular facilitava muito nesse momento, o aço e ferro se misturavam, repetindo isso por volta de duas dúzias de vezes, formando mais de 10000 camadas individuais por centímetro do aço, com toda certeza a Jihada de sua espada, ou seja a “pele” dela teria um padrão singular mais marcante em relação as katanas regulares. Aos poucos aquele bloco de metal tomava forma e se tornava a alma de sua arma.

A chapa de aço está agora martelada e mais similar a sua forma final, fazendo um profundo sulco em seu interior, um metal mais flexível é posto e então segue novamente as continuas marteladas, passava por seus retoques finais faltando apenas o polimento. Seria agora que Heshikiri faria sua marca e tornaria essa espada de fato única como ele, ao preparar a lâmina em definir as cores, ao colocar a argila negra passa também uma misturada com uma tinta coletada do interior de arvores, tom que essa argila havia ganhado era de uma vermelho intenso e vivo que mesmo após colocar ao fogo permaneceu uma linha avermelhada.

Com uma chapa de metal redonda entalhou sua kakuhō, fazendo assim o Tsuba. No Fuchi demarcou mais uma de suas particularidades, sua espada era parte de si e como símbolo de sua dieta entalhando dentes e por fim para o Mekugi preparou ele mesmo o molde onde o metal ganharia a forma de uma Oni. Polindo primeiros os materiais do abo por praticidade, passou então a polir a lâmina, sendo esse um dos processos mais importantes e definitivos, mas não possuindo dificuldade alguma para realiza-lo, pois desde que empunhará uma espada pela primeira vez, sabia que para manter afiada deveria polir regularmente e fez isso frequentemente por anos.

Duas semanas foram gastas para produzir sua Token, ao exibi-la para sua tutora que examinou com afinco, tudo o que ela disse foi: — Tem muito o que melhorar, embora esteja muito bonita seu trabalho ainda está desleixado e amador... — Olhou diretamente aos olhos do shinobi e em momento algum viu hesitação ou desapontamento, daí então passou a gostar do garoto, para ela as pessoas tem que saber ouvir criticas e encara-las como positivas, aquela estranha criança que facilmente aprendia tudo eu ouvia. A admiração por ele veia com sua resposta: — Tudo bem, esse é só o começo. Alguns anos atrás mal conseguia defender a mim mesmo, agora sou quase um mestre na arte do Kenjutsu, dominando o estilo ancestral de minha terra natal. Eu não preciso começar grande, assim como uma sequoia só preciso eclodir do chão, o tempo e esforço me fará cortar os céus e me tornar algo tão grandioso que nenhum dos olhos humanos conseguirá me passar despercebido. — A entonação de sua voz mudava conforme falava, cada vez mais confiante e grave se tornava, a forma como ele falava a fazia acreditar que de fato ele poderia conquistar tudo o que deseja.

Com suas roupas já secas, ele vai onde deixou a Token que havia comprado logo que se formou como genin, levando a Mary ele exibiu ambas e perguntou: — Só preciso saber se a que produzi tem uma qualidade melhor que essa manufaturada. — Ela pegou ambas as espadas e analisou de perto, era inegável que a espada de Heshikiri estava longe de ser perfeita, mas ao menos era melhor que o pedaço de metal que vendem na loja da vila. Sem muita demora dá seu aval: — Se tivesse fica pior eu lhe expulsaria daqui agora. Mas sem querer indicar que está pior, você de fato tem que ir embora, não gosto que um cachorrinho da Odatta fique praticamente morando na minha casa, já faz quase um mês que está aqui. — Acenando com a cabeça diz: — Claro, agradeço pela sua cortesia. — Pegando a sua nova arma e as outras que havia deixado ao lado da porta do banheiro, sai da casa acompanhado da garotinha. Ao atravessar o portão a pequena acena violentamente gritando: — Tchau! Venha nos visitar mais vezes moça bonita! — Com um aceno seu jeito ela se distancia da casa de Mary, rumo a sua morada, se lembrando que da próxima vez iria lembrar de explicar para a filha dela que ele é um garoto.