Mais uma vez Hisoka tinha compromissos logo de manhã. Da última vez a tarefa fora o simples cuidar de uma floricultura enquanto a proprietária estava fora, mas naquele dia a situação seria um pouco diferente: ele seria responsável por pintar muros e cercas ao redor da cidade durante o dia e, à noite, participaria da faxina na biblioteca.

Enquanto se vestia, pensava sobre as vantagens daquela missão em comparação à anterior. Pode não parecer algo muito ligado aos ninjas, mas participar da comunidade é importante, e pelo menos dessa vez você não vai ter que lidar com tanta gente. Não nevava, mas ainda assim era inverno e estava frio, e por isso ele colocou mais uma camada de roupas antes de sair de casa calmamente, se dirigindo ao primeiro muro, que ficava a poucos metros dali.

Chegando lá, viu que outro shinobi já havia começado o serviço, e havia outro balde de tinta e um pincel para ele no chão. Ele não sabia bem quem era o outro, mas ele parecia mais velho e era visivelmente mais forte e mais bonito. Sentindo-se um pouco intimidado, cumprimentou-o com educação e ficou calado enquanto pintava a parede, tentando parecer o mais natural possível.

Alguns minutos mais tarde, percebeu que gostava de fazer aquilo. Os movimentos repetitivos eram muito imersivos, até mesmo terapêuticos, e permitiam que ele pensasse sobre outras coisas, desde coisas imediatas, como o caminho mais eficiente para pintar todos os locais designados a ele, até possibilidades mais longínquas, como o desejo de realizar a missão Flor Púrpura que vira no quadro e a vontade de melhorar suas técnicas de perseguição e espionagem para, quem sabe, um dia encontrar sua mentora.

Esses devaneios iam e viam por sua mente, o envolvendo no trabalho ao ponto de não perceber quando seu “colega” foi embora. Assim que terminou de pintar o muro, pegou o balde e o levou ele até o próximo local a ser pintado, dessa vez uma cerca. Pintou com cuidado, mas de forma mais rápida que antes, visto que o espaço era menor, indo então para o ponto seguinte.

Seguiu esse padrão por cerca de duas horas, até que estava de volta à rua de sua casa. Entrou, estudando seus livros lá dentro até que chegasse a hora de ir à biblioteca.

O céu escureceu e o tempo tornou-se ainda mais frio, com ventos mais fortes. As duas luas brilhavam cheias, fornecendo uma boa forma de iluminação e também uma bela vista para o céu estrelado. Hisoka reforçava ainda mais suas roupas, logo depois calçando botas quentes e saindo de sua residência em direção à biblioteca.

Chegando lá, abriu a porta e descobriu que estaria sozinho para fazer a limpeza. Por um lado ele seria sobrecarregado pelo trabalho, mas por outro, ele teria muito mais tranquilidade do que teria com outros ninjas de sua idade ali, a maioria barulhentos demais para ele. Achou o depósito do estabelecimento, pegando a vassoura e começando a limpar as diferentes salas.

Passou cerca de uma hora e meia varrendo até se sentir satisfeito com o trabalho. Ainda havia um pouco de poeira, mas ele ficou com medo de molhar o chão e acabar danificando os livros, então se limitou a usar técnicas básicas de Futon para empurrar a poeira para longe dos locais mais difíceis de alcançar, logo usando a vassoura para juntá-la aos montes que se formava no corredor.

Varrido todo o local, ele jogou a poeira para a rua e guardou a vassoura, aproveitando para pegar então um pano, um balde pequeno e um espanador. Usando suas habilidades com Suiton, encheu o balde de água e umedeceu o pano nele, limpando com o tecido molhado as superfícies como mesas e balcões, aproveitando para torcer o pano dentro do baldes. Uma vez que isso terminou, ele passou a observar as prateleiras, passando o espanador naquelas que mais precisavam de cuidados.

Depois daquelas três horas limpando o ambiente, o shinobi se deu ao luxo de ainda organizar alguns registros e a posição de certos livros nas prateleiras. Muitos estavam em falta ou em posições erradas, havendo inclusive livros emprestados há mais de sete meses que nunca haviam sido devolvidos. Além disso, o garoto procurou por material que o interessassem, tomando a liberdade para fazer o empréstimo de três volumes: País do Chá: História e Geografia, Falhas Escolares no Ensino do Genjutsu e O Suiton como Estratégia de Defesa Nacional.

Por fim, o garoto guardou o espanador e o resto do material que usara para limpar e então deixou a biblioteca, fazendo o caminho de volta para casa com os livros em baixo do braço e o vento frio batendo contra o corpo.